
Algures na Índia, uma mulher com pouco mais de 20 anos carrega no ventre um filho de um casal português, de Lisboa, pelo preço de 15 mil euros. A jovem aceitou receber um óvulo já fecundado no final do ano passado e ser barriga de aluguer de Carla e de João. Carla não tinha possibilidade médica para desenvolver um embrião no útero devido a um acidente de viação, sofrido meses antes, que lhe perfurou o útero.
Por ano, dezenas de casais portugueses recorrem a clínicas de fertilização no estrangeiro para contratarem "mães de aluguer". A maioria dos casos, por problemas de saúde das potenciais mães, como falta do útero ou doenças incompatíveis com o desenrolar de uma gestação. Poucas são as que o fazem meramente por questões estéticas.
Em Portugal, a lei da procriação medicamente assistida proíbe expressamente a “maternidade de substituição”, embora o Código Deontológico dos Médicos preveja que, em casos excecionais de saúde, possa ser admitido. Mas os casais não desistem e estão dispostos a viajar até ao outro lado do mundo para concretizar um sonho.
Os destinos destes casais portugueses centram-se nos Estados Unidos, Índia, Brasil e Ucrânia, este mais nos últimos três anos. Porém, este "mercado" no país asiático, assim como na Ucrânia, ainda é clandestino. Mais enraizados e praticados, sem ser à margem da lei, são os dos dois destinos mais escolhidos pelos portugueses: Estados Unidos e Brasil. Mas por preços muito díspares. Se na Ucrânia e na Índia os valores pagos pelos casais rondam os 15 mil euros, já nos Estados Unidos o "negócio" pode ir dos 70 aos 90 mil euros. Sendo que à mãe de aluguer nas clínicas americanas é pago cerca de 25% do valor total recebido pela clínica: aproximadamente 20 mil euros. As clínicas americanas recebem cerca de doze casais por ano.
No Brasil, este tipo de fertilização já tem contornos diferentes: as barrigas de aluguer são permitidas por lei mas sem a conotação de transação comercial. Ou seja: as clínicas brasileiras não pagam às jovens que alugam o útero e apenas recebem um valor dos casais pela implantação do embrião no útero, cujo valor médio é de cerca de 31 mil euros.
"Recebemos muitos telefonemas e e-mails de casais que perguntam como se pode recorrer a este método. Mas aqui, em Portugal, apenas podemos responder que a lei proíbe. E muitos ficam revoltados com a realidade", adverte Vladimir Silva.