Um novo estudo britânico vem contrariar uma das certezas da medicina: que as mulheres nasciam com um número limitado de óvulos. A descoberta foi publicada na revista Nature Medicine e pode vir revolucionar os tratamentos de fertilidade.
A equipa do investigador Jonathan Tilly,da Escola Médica de Harvard, diz que, aparentemente, os ovários das mulheres adultas têm células que se podem diferenciar até se transformarem em óvulos. Até hoje, todos os manuais de biologia afirmavam que este processo só era possível até às 20 semanas de gestação, durante o desenvolvimento embrionário dos fetos do sexo masculino.
Esta conclusão é o culminar de uma história que começou em 2004, ano em que Tilly publicou um artigo onde mostrava que havia nos ratos um enorme desperdício de óvulos imaturos durante cada ciclo menstrual para que não houvesse uma produção contínua desta linha celular. Na altura, a comunidade científica desconfiou dos resultados argumentando que a equipa tinha feito contagens erradas.
Cinco anos depois, uma equipa de investigadores na China conseguiu provar a existência destas células nos pequenos roedores e, agora, a equipa de Tilly deu o salto para os humanos.
Utilizaram, para o efeito, o tecido de ovários de seis mulheres, entre os 22 e os 33 anos, que decidiram mudar de sexo e que consentiram doar o seu material biológico para efetuar o estudo.
Através de uma técnica que deteta moléculas que só existem à superfície das células estaminais, conseguiram filtrá-las do resto das células do ovário. Posteriormente, as células estaminais formaram, espontaneamente, células parecidas com óvulos imaturos.
Para testar o comportamento das células num meio mais natural, decidiram injetar num tecido de ovário algumas células estaminais geneticamente modificadas para produzirem a proteína fluorescente e colocaram o pedaço de ovário por baixo da camada de pele de um rato.
Duas semanas após o teste, o implante de ovário tinha desenvolvido folículos, onde os óvulos amadurecem para serem libertados do ovário. Dentro destes, estavam células fluorescentes, que se desenvolveram a partir das células estaminais injetadas.
"Precoce alimentar esperança"
A dirigente da Associação Portuguesa de Fertilidade, Filomena Gonçalves, disse hoje, em declarações à TSF, que estas são de facto boas notícias mas que pouco adiantam para os casais que tentam atualmente ter um filho.
"Sem dúvida que toda a investigação que é feita nesta área é bastante promissora. No entanto, talvez seja um pouco precoce alimentar esperança para os casais que estão em tratamento neste momento", disse.
Fonte: Visão Online (28/02/2012)
Sem comentários:
Enviar um comentário